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segunda-feira, 28 de abril de 2014

“O bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento”.
L.S. Vygotsky


PAUTA DE ATPC

“Sei que vivemos em um país onde a maioria da população é analfabeta (que fique bem claro que “saber ler” não é simplesmente juntar as letras formando palavras, juntar palavras formando frases e nem juntar frases formando textos, saber ler não é simplesmente ler, “saber ler” é ler e entender, é ler e depois poder expressar aquilo que leu com suas próprias palavras, saber ler é saber interpretar).”
Paulo Freire
OBJETIVO
  •  ·         Refletir sobre a função da leitura  em sala de aula e seus diversos gêneros
  •            Para que e para quem lemos?

  •                  Quais objetivos temos com a leitura em sala?

Pela Internet - Gilberto Gil

INSTITUTO AYRTON SENNA - Formação de Professores

GÊNEROS DIGITAIS E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA*

Acir Mário Karwoski

Mestre em linguística aplicada (UNITAU) e doutor em letras (UFPR). Professor na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) - Uberaba, MG

RESUMOFala-se a respeito das mudanças necessárias na escola quanto ao ensino de língua portuguesa, em especial a estratégica adoção de procedimentos de ensino tendo como fundamento a concepção dialógica de linguagem, os gêneros textuais e as sequências didáticas; mas pouco se fala da construção de subsídios teóricos e metodológicos que promovam a discussão a respeito da inserção dos gêneros digitais no ensino de língua portuguesa. O objetivo deste trabalho é refletir a respeito da leitura em ambiente digital - no atual contexto dos letramentos múltiplos e das interações na cibercultura - bem como a respeito dos desafios da construção de sentidos e estratégias da leitura de gêneros de textos em ambientes digitais.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Letramento digital. Gênero textual.

Introdução
A teoria da domesticação analisada por Snyder (2009) aceita a ideia de que as tecnologias tem efeito nas pessoas e que as pessoas moldam seus usos; as tecnologias bem como seus usos são dinâmicos e variáveis. Novos equipamentos, novos modos de interação, softwares, aplicativos, redes sociais e outras formas de interação surgem a cada momento, exigindo do usuário uma rápida e constante adaptabilidade sob pena de ficar fora dos movimentos cativantes proporcionados pela tecnologia. Os jovens na atualidade vivem imersos em um mundo que os convida à “infoxicação”[i].
Não é por acaso que os jovens da atual geração y apresentam habilidades avançadas de uso das tecnologias fora da sala de aula. Mas não há ainda estudos pontuais que mostrem os impactos do excesso de informação e exposição à tecnologia na vida dos jovens estudantes e em suas práticas de letramento. Soares (2002) faz a provocação no sentido de que estudos relacionados ao letramento venham a mostrar se o estado ou condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita digitais e participam competentemente de eventos de letramento na cibercultura conduzem a um estado ou condição diferente daquele a que conduzem as práticas de leitura e de escrita na cultura do papel. A autora conclui que
a tela como espaço de escrita e de leitura traz, não apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas maneiras de ler e de escrever, enfim, um novo letramento, isto é, um novo estado ou condição para aqueles que exercem práticas de escrita e de leitura na tela. (SOARES, 2002, p. 152)

Por que não levar essas novas habilidades exigidas pela leitura em ambiente digital para a sala de aula de língua portuguesa, em especial no campo das linguagens, códigos e suas tecnologias?
O self service que o ambiente digital possibilita ao leitor, especialmente a internet, vem recebendo atenção em diversas áreas do conhecimento. A leitura em ambiente digital é não-linear, possibilitando ao leitor perder-se nos labirintos dos hiperlinks. Dizemos que a leitura de hipertextos é uma janela aberta para o mundo.
O mundo da hipertecnologia oferece ao leitor o hipertexto, ou seja, “forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem verbal e não-verbal que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície outras formas de textualidade” (XAVIER, 2004, p. 171).

Para Gomes (2010),
Hipertexto como o local e o resultado da interação ativa, verbal ou não, entre interlocutores, enquanto sujeitos ativos que dialogicamente nele se constroem e são construídos, acrescentando a presença de links e uma existência exclusivamente eletrônica do hipertexto, como fatores diferenciadores do texto tradicional. (GOMES, 2010, p. 41)

A leitura de hipertextos - bem como a de livros eletrônicos - será uma das práticas usuais de leitura num futuro muito próximo. No entanto, estudos apontam que há necessidade de muitos aplicativos, tais como os do ipad, por exemplo, produzidos e distribuídos pela Apple, passarem por mais testes quanto à usabilidade e navegabilidade, tornando a leitura mais atraente ao leitor. Sem dúvida, a leitura de revistas na tela é muito mais atraente que em papel. A multimodalidade é bem maior e mais evidente, contribuindo para a efetivação e construção de sentidos. Exige-se do leitor novas habilidades e instrumentos para gerenciar sua compreensão e reconhecer a importância que se deve dar à multimodalidade no letramento digital do século XXI. Na leitura em papel o leitor encontra palavras e imagens; na tela encontra palavras, imagens, movimentos, sons, interatividade nos hiperlinks, exigindo novas estratégias de leitura. Novas habilidades que caracterizam os letramentos múltiplos.
Nielsen (2010), após realizar um estudo comparativo-contrastivo entre a leitura num ipad da primeira geração e num kindle - tablets produzidos pela Apple e Amazon, respectivamente - mostrou que a velocidade de leitura em tablets é muito maior que no passado, mas ainda os leitores de tablets lêem mais devagar que os leitores tradicionais do papel. O pesquisador também concluiu que leitores preferem ler em tablets em vez de ler na tela de computadores. Para Rojo (2009), ler envolve diversos procedimentos e capacidades (perceptuais, motoras, cognitivas, afetivas, sociais, discursivas, linguísticas), todas dependentes da situação e das finalidades de leitura, denominadas em algumas teorias de leitura como estratégias.

Gêneros digitais e ensino de língua portuguesa

As habilidades dos jovens da geração y poderiam ser usadas de forma criativa e produtiva para a aprendizagem de língua portuguesa tornando-a mais significativa, aprimorando o letramento digital.
Poderia ser instaurado em sala de aula um ambiente dinâmico e complexo que viesse a satisfazer as ansiedades dos jovens e os propósitos escolares expressos nas orientações curriculares e nos compromissos da escola enquanto agência da cultura letrada. Faz-se necessário, como reforça Snyder (2009), de uma sala de aula de letramento para o futuro, envolvendo a integração efetiva do letramento impresso (inclusive o literário) e o letramento digital. Prática paradoxal, mas ainda há professores que levam para a sala de aula gêneros de textos impressos retirados da internet tais como artigos de opinião publicados em jornais ou revistas eletrônicas.
A leitura de um artigo de opinião em uma revista semanal e ou em um jornal poderia ser mais interessante ao estudante se realizada na tela. Após a atividade de pré-leitura e leitura poderia ser explorada a escrita de opiniões a respeito do assunto ou temas analisados. Muitos ambientes na internet permitem o envio por escrito de opiniões o que tornaria a leitura mais significativa e a escrita mais contextualizada.
Os letramentos em tempos digitais que emergem na hipertextualidade estão se tornando interesse de pesquisadores tendo em vista que a inserção de computador, de tablets e aparelhos mobiles no ambiente familiar e social tornou-se comum na contemporaneidade. O acesso das crianças a ambientes multimidia ocorre muito precocemente, dada a importância que os pais e a sociedade dão ao letramento digital e ao uso das tecnologias. O computador é o bem durável com maior aumento percentual de consumo segundo pesquisas do IBGE. A informatização e as tecnologias digitais vem revolucionando os modos de viver e novas práticas sociais surgem a cada momento, sendo a maioria relacionada ao letramento digital.
Compartilhamos a ideia de que todos os recursos utilizados na construção dos gêneros textuais exercem uma função retórica na construção de sentidos dos textos. Assim, o letramento visual está diretamente relacionado com a organização dos gêneros textuais. (DIONISIO, 2011, p. 138). O ambiente digital configura-se em imagens, palavras, sons, movimentos. Diferentes modos e possibilidades de expressão põem em questionamento novas demandas de leitura. Verbal e visual que configuram muitos gêneros de textos no ambiente digital interagem intensamente e não podem ser desconsiderados durante a leitura. Novos posicionamentos mais críticos do leitor, processamentos cognitivos mais complexos bem como novas estratégias de leitura em ambiente digital exigem do leitor, segundo Ribeiro (2006), comportamentos manipulativos extremamente novos, tais como a substituição do mouse pelo dedo em tablets. Segundo a autora,

o leitor letrado, conhecedor de muitas formas de texto e de hipertexto impressos, não mostra dificuldades em ler no meio digital. Reconfigura seus gestos, seus modos de busca, suas reações ao suporte, suas expectativas, mas navega com agilidade e compreende com eficiência. (RIBEIRO, 2006, p. 28)

Concordamos com a autora pois a leitura em tablets, por exemplo, exige do leitor a reconfiguração de muitos gestos, muitos modos de buscas e provoca diversas reações diante do novo suporte.
Snyder (2009, p. 38), alerta para as implicações dos achados de pesquisas que enfatizam a importância do entendimento das crianças e dos jovens que povoam as salas de aula. Não é mais pertinente afirmar que a inserção do computador na escola é uma inovação. O computador com acesso a internet e mídias relacionadas pode ser um importante instrumento de trabalho do professor para o ensino. Educação e tecnologias integradas na escola não são mais novidades, são necessidades. E a internet enquanto rede de ligações que permite diferentes e múltiplas leituras pode ser utilizada pelo professor como um instrumento no ensino para conduzir a aprendizagens mais significativas dos alunos.
A educação enquanto conjunto organizado de atividades para promoção do ensino-aprendizagem tenderá a ficar atenta aos avanços tecnológicos da sociedade a fim de incorporar as tecnologias no ambiente escolar. Não podemos nem devemos nos render a uma escola com espaço físico e estrutura do século XIX; maioria dos atuais professores nascidos e formados no século XX e uma classe de estudantes do século XXI. O abismo que se abre entre a escola e as práticas tecnológicas pode engessar o ensino dando lugar ao marasmo e à desmotivação. Os estudantes da geração Y apresentam um perfil instado no conexionismo. São capazes de realizar diversas coisas ao mesmo tempo. O computador utilizado pela maioria dos estudantes da geração y permite incluir e acessar textos verbais escritos, imagens, sons. “Tudo compõe os textos e é relevante para a construção de sentidos.” (VERGNANOJUNGER, 2009, p. 30).
Quanto aos professores, identificamos muito facilmente nas escolas três perfis: a) professor motivado para inserir gêneros digitais no ambiente escolar, porém sem preparo para lidar com as tecnologias em sala de aula e depende de auxilio dos alunos ou de um profissional da área de informática;  b) professor desconfiado e descrente que não aceita as tecnologias em suas aulas e tende a resistir ou a enfrentar as tecnologias e perpetua o ensino baseando-se apenas na cultura escrita e impressa;  c) professor estimulado e com preparo tecnológico para motivar os alunos a utilizarem as tecnologias a serviço da aprendizagem. Esse último perfil de professor tende a integrar as diversas mídias ao cenário das salas de aula aproximando os alunos aos ambientes que costumam encontrar em casa e na sociedade.
A internet no ambiente escolar não é novidade. A escola assiste aos movimentos e políticas públicas de inserção de tecnologias sem, de maneira muito clara, compreender as implicações dessas tecnologias no trabalho dos professores e na formação dos alunos. Pesquisas revelam que a internet no cenário da educação traz muitos benefícios, tais como: a) por estar centrada na atenção do aluno como sujeito ativo, a aprendizagem pode ocorrer de forma mais efetiva e dinâmica, cabendo ao professor um papel de motivador, de facilitador ou guia de aprendizagem em vez de transmissor do conhecimento;  b) auxiliar o aluno na resolução criativa dos problemas que se apresentam, exigindo maior autonomia intelectual além de aprender a lidar com erros e acertos.
O uso da tecnologia no processo de ensino-aprendizagem cria novas condições de produção e recepção de textos e, consequentemente, contribui para a produção de conhecimentos e construção de aprendizagens. Cautela e perspectiva crítica quanto ao uso das tecnologias na escola são apropriadas e convenientes pois na atualidade não se pratica educação sem tecnologia, mas a educação não pode se reduzir ao simples uso de tecnologias; a dimensão didática deve se pautar na utilização de computadores e tablets para expandir a capacidade crítica e criativa dos alunos. Depende de como se usa, a favor de que, de quem e para quê. No entanto, algumas resistências precisam ser enfrentadas.
A disseminação do acesso ao livro eletrônico no Brasil depara-se com a questão dos direitos autorais e o alto custo para aquisição de equipamentos e obras. As editoras investem tímida e cautelosamente no mercado de livros eletrônicos. O kindle é um equipamento leitor de e-books comercializado pela Amazon que está se expandindo pelo mundo, devendo chegar ao Brasil com maior facilidade em breve. Já o Ipad, da Apple, promete revolucionar as redes sociais. Há diversos projetos recheados de muita euforia pela comercialização de tablets no Brasil. Há inclusive uma iniciativa de a CAPES financiar um projeto para desenvolver aplicativos para acesso aos periódicos científicos. Iniciativa que torna o acesso mais rápido à produção e divulgação científica. Exigir-se-á do estudante universitário habilidades não apenas de letramento digital mas domínio das práticas de leitura e escrita próprias do letramento acadêmico- científico.
Diante do cenário heterogêneo de possibilidades que se abrem no mundo digital, tais como os telefones celulares, mensagens instantâneas de textos pelo SMS, jogos on line, blogs, mecanismos de buscas, websites, emails, facebook, orkut, e-books e outros, com ferramentas tecnológicas como notebooks, iphones e tablets, torna-se possível ao usuário, principalmente o adolescente, ficar plugado em tudo e o tempo todo. Exige-se, portanto, aprimoramento da competência metagenérica para agenciar e domesticar-se com os gêneros digitais. Novas competências e habilidades de leitura são exigidas. Limitações e coerções também serão impostas por esses gêneros.
Assim, a leitura de hipertextos exige cautela por parte dos professores, e as ações didáticas devem ser programadas e executadas de maneira que não provoquem desestímulo dos alunos.  Realizar uma aula no laboratório de informática ou com laptops ou tablets exige planejamento e não pode extrapolar o tempo de tolerância que um estudante deve permanecer diante da tela.
Em 2009, realizamos uma experiência em forma de oficina de práticas de leitura de e-books para quarenta professores da educação básica em Uberaba – MG. A maioria dos professores atuando nas séries iniciais da educação básica. Nosso objetivo era mostrar aos professores como é possível realizar atividades de leitura em ambiente digital tendo em vista que a maioria das escolas possui laboratório de informática. Mas utiliza muito pouco o laboratório como ambiente de ensino. Mostramos, também, ser possível organizar uma biblioteca digital com textos da literatura infanto-juvenil até mesmo em escolas que não dispõem de acesso à internet. É possível gravar diversos e-books em CD e disponibilizar aos alunos para leitura ao computador.
Os professores relataram que há maior motivação dos alunos quando dizem que as aulas serão no laboratório de informática. Outros declaram que os laboratórios de informática das escolas são ainda pouco utilizados pelos professores, dada a complexidade de tarefas que se apresenta. Assim, se não existe livro impresso em número suficiente aos alunos, porém existe um laboratório de informática com 20 computadores, é possível o professor estimular a leitura no ambiente digital?  Essa pergunta norteou as atividades da oficina.

(1) Sim, já li alguns livros nesse formato na minha área de formação e também li “1984″ de George Orwel, como parte das atividades no semestre passado.  Em todas as vezes, me senti bem lendo nessa forma eletrônica. Digo que há pontos positivos e negativos:
Negativos: cansaço visual, ante à luz emitida pela tela do computador. Quando li “1984″ fiquei um dia inteiro lendo e isso me trouxe um pouco de dor nos olhos. Talvez o ideal seria trocar o tipo de monitor para o modelo LCD que é menos agressivo para a vista. Também não dá para ler durante as viagens (ônibus, avião, carro) e nas salas de espera  menos que você esteja com um laptop nas mãos.
Positivos: achei interessante porque é algo inovador e estar em sintonia com o moderno é gratificante, ainda mais quando esse novo modo de ler traz economia em todos os sentidos:
a) agride menos o meio ambiente uma vez que não é necessário derrubar árvores para fabricação de papel utilizado na impressão;
b) custa muito mais barato, sendo que há muitos livros que se consegue gratuitamente na internet;
c) a atualização de uma obra é de fácil elaboração. Principalmente os livros de Direito, a cada lei editada, uma nova edição da doutrina deve ser adquirida com a atualização;
d) não ocupa espaço na armazenagem na biblioteca. Podemos carregar uma biblioteca inteira num pendrive de pouco mais de 5 cm de comprimento. (PROF 1)
(2) Nunca consegui terminar de ler um e-book, pois é um pouco desconfortável por conta da tela do computador, a luminosidade, sem contar que não dá pra ler em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer modo. Fazer anotações também fica complicado, pois não dá para marcar no próprio texto. Talvez a leitura de e-books se torne mais habitual e prazerosa com a comercialização e popularização do kindle no Brasil. Talvez, porque ele já existe nos EUA há algum tempo e a mudança de hábito lá não foi significativa… (PROF 2)

Os depoimentos elucidam o que a grande maioria pensa a respeito dos e-books na escola. Os desafios são muitos, a leitura de e-books é uma prática interessante, embora as resistências à leitura na tela ainda sejam grandes.
Procuramos saber as percepções acerca do futuro das práticas de leitura, perguntamos aos professores: você pensa que a leitura em ambiente eletrônico vai se tornar uma prática comum substituindo muito em breve a leitura em papel?   Transcrevemos outros três depoimentos:

(3) Sou otimista quanto a isso, apesar de haver ainda muitas pessoas que não conseguem ler na tela do computador um livro mais extenso. Mas é apenas uma questão de adaptação, se qualquer pessoa insistir um pouco mais, acabará se acostumando. Com a visão de proteção ambiental crescendo no mundo todo, essa é uma tendência que dominará a maneira de ler dentro de mais algumas décadas. (PROF. 3)
(4) Tenho minhas dúvidas. Há pesquisas sobre leitura, inclusive com crianças, que mostram que até elas preferem ler no papel. Acho que os livros impressos não acabarão, mas a leitura virtual terá também o seu espaço, muito maior do que o que ocorre atualmente, principalmente por conta do acesso, economicamente mais vantajoso. Acredito que, no futuro, as pessoas lerão mais e as duas formas de leitura (virtual e no papel) coexistirão, cada uma com seu grupo. As pessoas são diferentes, têm gostos e hábitos totalmente diversos. Então, parece-me natural que a leitura virtual seja compreendida como mais uma forma (positiva e relativamente democrática) de disseminação do interesse pela leitura. (PROF. 4)
(5) Bom, ainda não pensei em nada muito interessante, mas creio que o e-book se aproxima do estudante na medida em que existe em um ambiente muito frequentado por estes, o ambiente virtual. Lançar mão desse recurso pode facilitar o interesse e até mesmo a leitura de jovens que passam 8, 9, 10 horas diárias na frente do computador. Para alguns estudantes, a simples oportunidade de usar o computador e a internet como ferramentas de ensino já é, por si só, algo extremamente motivante. Imaginemos o seguinte: o professor sugere um trabalho envolvendo a leitura de um clássico, Madame Bovary, por exemplo. Numa sala de 35 alunos, para que se fizesse uma leitura de trechos do livro, seriam necessários, pelo menos, 18 livros - 1 para o professor e 17 para que a classe se divida em duplas e um trio. Como sabemos, grande parte dos nossos alunos de escolas públicas não teriam condições de comprar os livros e nem mesmo as escolas têm condições de oferecê-los em suas bibliotecas. Com o e-book e um laboratório de informática, a tela do PC funcionaria como uma grande página, atendendo 4 ou 5 alunos. A realidade da nossa escola mostra que o e-book pode diminuir a diferença entre as oportunidades oferecidas aos alunos de escolas privadas e aquelas oferecidas aos alunos das escolas públicas, diminuindo a lacuna entre a qualidade do ensino nos dois tipos de instituições. Talvez o e-book seja uma ferramenta mais social do que pedagógica. (PROF. 5)

Podemos concluir que os desafios para a prática de leitura em ambiente digital continuam. Como será possível inserir nas escolas práticas de leitura de gêneros textuais com estratégias didáticas que motivem os estudantes muito além de promover a autonomia na construção de conhecimentos e a interdisciplinaridade, bem como desenvolver habilidades necessárias à prática do letramento digital? A leitura na tela exige letramentos múltiplos possibilitando ao leitor repensar e reinventar o mundo que o cerca. Se a escola assumir os letramentos múltiplos, principalmente o literário, e oferecer ao aluno possibilidades de leituras no papel e na tela de computador ficando a seu critério a escolha, estará promovendo a formação das habilidades que são necessárias para a vivência na sociedade que a cada dia torna-se mais digital. Mas que ainda não esqueceu do papel.
Mangen (2008, p. 416) nos desafia: é preciso realizar mais pesquisas empíricas a fim de compreendermos plenamente o impacto das diferentes plataformas e suas affordances sensório-motoras e como estas são de fato parte importante da nossa experiência de leitura.[ii]
Não resta dúvidas de que é preciso analisar urgente e criticamente as mudanças desafiadoras da organização das escolas, em especial dos ambientes de aprendizagem, dando-se atenção para as demandas oriundas das redes sociais e as novas tecnologias e o papel do professor nesse novo contexto, conforme orientam os documentos das políticas públicas educacionais. Há necessidade de os estudos de letramento digital incluírem pesquisas a respeito da acessibilidade dos portadores de necessidades especiais – surdos e cegos – ao mundo da cibercultura.
Acredito também que a maioria dos atuais representantes da geração y serão professores no futuro e certamente as tecnologias terão mais evidência nas escolas. E o ensino enfocará os múltiplos letramentos e dar-se-á nova atenção para a multimodalidade e seu poder simbólico de construção de sentidos e conhecimentos, reinventando inclusive o processo de interação. Quem sabe a compreensão responsiva proposta por Bakhtin (2009) ganhe novos contornos teóricos.

Notas:
[1] Neologismo criado pelo físico espanhol Alfons Cornellá.
² More empirical research is needed in order to bring us closer to fully understanding the impact of different material platforms and their sensory-motor affordances, and how these are in fact a major part of our reading experience.

Referências
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 13. ed. Rio de Janeiro: Hucitec, 2009.
DIONISIO, A. Gêneros textuais e multimodalidade. In: KARWOSKI, A.M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K.S. (Org.) Gêneros textuais: reflexões e ensino. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. p. 137-152.
GOMES, L. F. Hipertextos multimodais: leitura e escrita na era digital. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2010.
MANGAN, A. Hypertext fiction reading: haptics and immersion. Journal of research in reading. v. 31, n. 4, 2008 p. 404 – 419.
NIELSEN, J. Ipad and kindle reading speeds. Disponível em http://www.useit.com/alertbox/ipad-kindle-reading.html Acesso em 29 Mar.
2011.
RIBEIRO, A. E. Texto e leitura hipertextual. Linguagem & Ensino. v. 9, n. 2, p. 15-32, jul. dez., 2006.
ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola editorial, 2009.
SNYDER, I. Ame-os ou deixe-os: navegando no panorama de letramentos em tempos digitais. In: ARAUJO, J. C.; DIEB, M. (Org.) Letramentos na web: gêneros, interação e ensino. Fortaleza: Edições UFC, 2009. p. 23- 46.
SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n.81, p. 143-160, dez., 2002.
VERGNANO-JUNGER, C.S. Leitura na tela: reconstruindo uma prática antiga. In: SOTO, U. et al. Novas tecnologias em sala de aula: (re)construindo conceitos e práticas. São Carlos: Claraluz, 2009. p. 25-33.
XAVIER, A. C.; MARCUSCHI, L. A. (Org.) Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
Publicado originalmente no site do SIMELP da UFU:http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/pt/arquivos/sielp2011/artigo_95.pdf


http://www.educacaoetecnologia.org.br/?p=8693

CALENDÁRIO DAS FORMAÇÕES DE 2014!

 http://www.educacaoetecnologia.org.br/

Protagonismo

"A palavra protagonismo vem da junção de duas palavras gregas: protos, que significa o principal, o primeiro e agonistes, que significa lutador, competidor, contendor."
(Antonio Carlos Gomes da Costa)

O que significa reconhecer o protagonismo dos jovens na sociedade?




Formação de Professores
A fim de agregar valor aos livros, aprimorando o ensino para os professores e a aprendizagem para os alunos, sua escola pode contar com o apoio de uma equipe qualificada de Assessoria Pedagógica da Editora Saraiva para orientar os professores na aplicação de projetos de leitura em diferentes áreas do conhecimento. Os Assessores Pedagógicos podem, além de capacitar e orientar os professores, auxiliar também na implantação de conteúdos e materiais e no acompanhamento do planejamento escolar.

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domingo, 27 de abril de 2014

Material de Estudos


“O bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento”.
L.S. Vygotsky
PROJETOS
·         
  1.          O que é um projeto? Quais são as características básicas de um projeto? O que diferencia um projeto de outras atividades profissionais? Quais são as providências essenciais a tomar durante a criação, planejamento e gestão de um projeto? Refletir:
  2. ·     Projeto não é apenas um plano de trabalho ou um conjunto de atividades bem organizadas. Há muito mais na essência de um bom projeto.Primeiramente é preciso entender o que tem incentivado o uso de projetos como ferramenta didática.Projetos Didáticos
  3. ·     É centrado na realidade de situações e problemas reais, concretos, contextualizados, e portanto, significativos, que interessam aos alunos e direcionam uma aprendizagem com sentido.  Preve o conhecimento como instrumento para compreensão e possível intervenção na realidade. As ações e os conhecimentos necessários para a compreensão da realidade são discutidos e planejados entre professor e alunos;O que justifica o uso de projetos
  4. ·    A aprendizagem ocorre durante todo o processo e não envolve somente conteúdos, mas traz conhecimentos sobre como conviver, negociar e se posicionar; estimula a buscar e selecionar informações além de fazer o aluno compreender a importância do sujeito;Exige atitudes de responsabilidade, cooperação e autonomia;O professor intervém no processo de aprendizagem dos alunos, criando situações problematizadoras, introduzindo novas informações, dando condições para que eles avancem em seus esquemas de compreensão da realidade;


Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos. Brasília: FNDE, Estação Gráfica, 2006. p. 119.


O que prevê um projeto?


Quem faz o projeto?

O que não pode faltar num projeto?

  • O Processo de Elaboração/Planejamento
Selecionando as informações que sustentem o projeto através do estabelecimento de objetivos e resultados esperados no ensino e na aprendizagem.
  • A Execução/Orientação
Desenvolvendo atividades coletivas que sigam uma seqüência gradual, bem como utilizando registros feitos pelo professor (passo a passo), a fim de organizar melhor o percurso das atividades propostas.
  • A Revisão/Avaliação
Através da auto-avaliação, dos alunos e do professor, em relação aos encaminhamentos utilizados no processo de aprendizagem, retomando as hipóteses iniciais dos alunos para relacioná-las aos conhecimentos adquiridos. 


  • Produz atividades novas.
Exige envolvimento dos alunos.
Organiza e valoriza, ainda mais, o conhecimento escolar.
Conscientiza os alunos do seu processo de aprendizagem.
Vai além dos limites do currículo escolar.
Permite a interdisciplinaridade de forma mais flexível.
O professor é o pesquisador do seu próprio trabalho.

Quais as vantagens do trabalho com projetos didáticos?


  •  Do início do projeto até chegar ao final, muito há de se fazer. Sabemos que não existe uma receita pronta, por isso é necessário colocar a “mão na massa”, ou seja, colocar as ações em prática. Para ajudá-lo, selecionamos algumas dicas que servem para elaboração de projetos didáticos.
1. Tema do Projeto Tem a ver com o(s) assunto(s) que será(ão) abordado(s).
2. Ano/CicloLocalização de ano escolar e faixa etária dos alunos envolvidos.
3. DuraçãoÉ o tempo que será estabelecido para o estudo do tema. Este poderá ser variável, de acordo com os critérios previstos.
4. Área(s) de Conhecimento(s)Diz respeito à(s) disciplina(s) que será(ão) contemplada(s) no projeto.
5. Apresentação/JustificativaExplica, em linhas gerais, a escolha do tema e a forma de trabalho de acordo com os objetivos e os conteúdos do projeto.
6. ObjetivosProcuram levar em conta os conceitos, os procedimentos e as atitudes previstas para ampliar os conhecimentos dos alunos do Ano/Ciclo.

Por onde começar um projeto?
·  Etapas Previstas conduzem os processos didáticos que serão utilizados para determinar o que e como os alunos irão aprender.
Contrato didático: conta com o comprometimento dos alunos para se envolverem nas etapas do projeto, visando o produto final conhecido por eles.
Encaminhamento das atividades e cronograma: levantamento de hipóteses e questionamentos sobre o tema a partir de pistas oferecidas durante o processo, levando em conta os conhecimentos prévios dos alunos e suas dúvidas sobre o tema em estudo.
Rotinas de atividades a serem realizadas: elaboração de estratégias que permitam a busca de informações que estimulem a aprendizagem e a troca dos conhecimentos entre os alunos, a exemplo de pesquisas, filmes, debates, entrevistas, documentários, eventos, ensaios, visitas a exposições, experimentos, etc. Define os materiais necessários e explora as produções dos alunos em materiais confeccionados por eles: cartazes, livros, faixas, etc.
Produto final: exposição dos materiais ou vivência de atividades com destinatários reais (função social).

· Resultados Esperados avaliação do processo de aprendizagem esperado para os alunos e dos procedimentos utilizados pelo professor durante todo o projeto, confirmando ou reformulando as etapas para garantir a compreensão de todos.
Por certo, o trabalho não termina aqui, ele pode estar apenas começando. De tudo, fica a idéia de que trabalhar com projetos desenvolve competências tanto para quem aprende como para quem ensina. 

·     O tema do projeto deve ser escolhido pelo professor, pois ele sabe os objetivos didáticos e os conteúdos que deseja trabalhar, mas existe um espaço para a tomada de decisão dos alunos. 
É preciso estabelecer, em primeiro lugar, o que os alunos já têm condições de decidir sozinhos e deixá-los agir. 
         O tema pode ser levado pelo professor, mas os alunos têm de estar interessados em desenvolvê-lo.
A escolha do tema

·  Definição do problema. Projetos bem sucedidos, de forma geral, são definidos a partir do problema a ser resolvido e da clareza com que se define a solução do problema. O mais importante é definir com clareza os objetivos do projeto. Uma vez decidida a realização de um projeto, deve-se discutir exaustivamente como o problema pode ser resolvido e as características do resultado final, descritas nos objetivos do projeto ou em suas metas. Sempre que possível, o próprio título do projeto deve indicar as características do resultado final. Por exemplo: reforma, instalação e colocação em funcionamento da cantina escolar. Quanto mais tarde se deixa para realizar essas discussões e definições, mais difícil se torna a implementação do projeto.
Condições para o êxito

·  Envolvimento da equipe. Quanto mais o projeto representa um desafio para a equipe envolvida, maior é a probabilidade de que venha a ter sucesso. Projetos bem sucedidos criam na equipe uma sensação de propriedade:
“Este é o nosso projeto, o problema que temos de resolver”.

·  Planejamento. Projetos bem sucedidos são muito bem planejados. Uma vez estabelecidos os planos, no entanto, a equipe tem grande liberdade para executá-los. A probabilidade de o projeto ter sucesso aumenta se durante a sua implementação houver um cronograma de providências e resultados bem elaborado, a partir do qual, os participantes possam controlar o bom andamento dos trabalhos em direção aos resultados previstos. Outro fator que contribui com o sucesso de um projeto é procurar prever problemas que possam surgir em sua implantação e, com a antecedência necessária, preparar-se para resolvê-los, caso eles realmente aconteçam. Existem projetos que necessitam de recursos financeiros para sua implementação. Nesses casos, é preciso haver um bom planejamento dos custos do projeto, considerando-se quanto se vai gastar e de onde sairá o dinheiro. A existência de um coordenador é também uma providência necessária para que um projeto seja bem implementado e atinja a meta definida. 

·  O projeto começa a se tornar uma realidade, diversas pessoas já estão em plena atividade resolvendo problemas, tomando providências, realizando tarefas necessárias à consecução dos objetivos. Durante esse período de implementação do projeto, é muito importante que a equipe, liderada pelo coordenador, mantenha-se atenta à execução do cronograma, acompanhando se as coisas estão dando certo, se o que foi imaginado está se realizando. O papel do coordenador nesse processo é muito importante, pois essa preocupação com a avaliação deve estar presente todo o tempo, desde o começo da execução do cronograma, e não somente quando o projeto está no final, ou quando as coisas já não deram certo. Por exemplo, se uma tarefa deve estar pronta dentro de uma semana e ainda não há perspectivas de ser resolvida, o coordenador precisa chamar o responsável, ver o que está acontecendo, se a pessoa precisa de ajuda, se há algum problema relacionado com a própria tarefa e se tudo estará resolvido no prazo previsto. A avaliação permanente deve se concretizar em ações corretivas, assim, se for preciso, o coordenador deve tomar as providências necessárias para que a tarefa esteja feita no prazo.
A implementação do projeto e a avaliação permanente



LIBÂNEO, José Carlos. Educação Escolar: políticas, estruturas e organização / José Carlos Libâneo, João Ferreira de Oliveira, Mirza Seabra ...